terça-feira, 3 de março de 2015

"Hanami - Cerejeiras em Flor"

Quem sabe o que é o Hanami? Hanami é a tradição japonesa de contemplar as cerejeiras em flor, que resplandecem - delicada e fugazmente - poucos dias por ano. É um ato de contemplação estética da beleza e da força da natureza, uma homenagem à vida. No Japão moderno, no Hanami se realizam festas ao ar livre embaixo das árvores floridas. 

O filme “Hanami — Cerejeiras em Flor” nos remete à questões básicas da condição humana: somos seres frágeis, separados ao nascer e ao mesmo tempo profundamente dependentes uns dos outros; e mais, somos todos finitos, limitados ao curto tempo de uma vida. Mesmo quando se alcança a maturidade, a vida é breve; 90 anos, que seja, é pouco, se formos pensar bem. Assim, a protagonista do filme, Trudi (Hannelore Elsner), nos faz pensar: como dar amor e felicidade a alguém que você ama, a quem dedicou quase toda sua vida, e que está prestes a morrer de uma doença terminal? 

Trudi descobre que seu marido Rudi (Elmar Wepper) está com uma doença disseminada pelo organismo, incurável, e, seguindo a sugestão dos médicos, decide aproveitar o tempo remanescente fazendo uma viagem de férias e assumindo a responsabilidade de ocultar-lhe a verdade sobre sua doença. Decidem visitar seus filhos em Berlin, o que ocorre sem ninguém saber que Trudi estava promovendo uma viagem de despedidas do pai, mas como o tempus fugit, na correria do dia-a-dia os filhos não tem disponibilidade para os pais... Todavia, o inesperado irá mostrar a sua cara: quem vive e quem morre? Para estar vivo basta o coração bater? Que coração: o do peito ou o da alma? 

Durante a viagem, Trudi, que já está elaborando o luto pela separação de seu amado, perde a inibição de expor a ele os seus pequenos prazeres estéticos, como por exemplo exercitar uma modalidade de dança contemporânea chamada Butoh, que é uma dança moderna japonesa que busca uma forma de expressão não necessariamente coreografada, nem presa a movimentos estereotipados que remetam a uma técnica específica ou rígida, ela busca o fugaz, o momento presente e a impermanência. Esse é um tema central do filme: porque não expor ao outro quem realmente somos e ver se isso se reverbera de alguma forma na maneira como a pessoa lida consigo mesma e com os outros ao seu redor? Seria pela falta de tempo e disponibilidade ou por uma certa covardia e preguiça? E o mesmo não se aplicaria numa relação analítica? 

A relação amorosa – e este filme é também um romance – é efêmera; como nas maravilhosas floradas das cerejeiras, no amor temos que tentar deixa-lo florir e revelarmos nossa essência em sua plena força e dor. Aí então, devemos tentar aproveitar ao máximo o breve esplendor do amor. Em geral, fugimos do desabrochar quem realmente somos, evitamos mostrar nosso verdadeiro Eu, expondo nosso coração no que ele tem de belo, de frágil e de doloroso... 

Trudi e Rudi, os protagonistas desta bela estória, enfrentando suas dores de finitude e separação, irão lidar com as dores da vida das quais geralmente nos evadimos; fazem isso buscando sua evolução pessoal. A diretora, Doris Dörrie, parece concordar com essa ideia, numa entrevista sobre o filme ela afirmou: “O sofrimento é um processo de integração. Primeiro, há dor infinita pela separação física e a consciência de que um nunca mais poderá se encontrar com o outro fisicamente. Mas esse processo também se torna uma espécie de integração interna quando, de repente, um passa a carregar o outro internamente. Isso conduz a um diálogo interior que não cessa com o tempo, um diálogo que não pode ser interrompido”.

Dr. Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro

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