quinta-feira, 2 de junho de 2011

Dra. Cora Sophia Schroeder Chiapello, psicanalista e membro efetivo da SBPSP e da SBPRP, nos fala sobre o curso que ministrará no XXIII Congresso Brasileiro de Psicanálise. O evento ocorrerá de 7 a 10 de setembro, em Ribeirão Preto.

Por Dayane Malta
MTB - 61585/SP


Boa tarde pessoal!

Continuando nossa série de entrevista sobre a programação do Congresso, hoje tivemos o prazer de entrevistar a Dra. Cora Sophia Schroeder Chiapello. A Dra. Cora Sophia nos falou sobre Psicanálise, e é claro, sobre o curso intitulado “A sexualidade e sua representação”, que ministrará no evento. Confira o que ela disse!

Antes de descobrir a Psicanálise, a Dra. Cora Sophia dedicou-se à filosofia e à música. Fez filosofia em Paris, no Instituto Católico, e graduou-se em piano pela Faculdade de Música de Ribeirão Preto, assim como no curso de Serviço Social desta faculdade. 

“A literatura também sempre me fascinou e eu estava perdida no meio de tantos amores, quando fui trabalhar com a equipe do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria Dinâmica de Ribeirão Preto, como assistente social psiquiátrica. Estes anos em que trabalhei com os pacientes e suas famílias tantas horas por dia, abriu-me para mil curiosidades a respeito da origem dos sintomas, de como tratá-los efetivamente e, pouco a pouco, minha curiosidade sobre o conhecimento racional e filosófico voltou-se para o interior desconhecido do ser humano”, afirma.

Casada, com quatro filhos, cursou a faculdade de Psicologia da USP de Ribeirão, iniciando pouco depois sua formação como psicanalista na Sociedade de SP. “Meu analista foi Dr. Yutaka Kubo, cuja sabedoria oriental deu ao meu processo de análise uma profundidade e uma qualidade filosófica e artística, característicos de sua origem cultural milenar. Ao mesmo tempo, nunca deixei de participar das atividades do grupo de psicanalistas de Ribeirão Preto”, diz.

Atualmente, é membro efetivo das duas Sociedades e isto lhe foi muito enriquecedor. Durante alguns anos dedicou-se ao estudo do pensamento de Lacan e de outros pensadores de língua francesa. “Depois de ter passado mais de 15 anos voltada ao pensamento de Bion e Melanie Klein, ficando Freud de certa forma em segundo plano, mergulhar em Lacan significou mergulhar profundamente em Freud”, afirma.

Este mergulho foi estruturante para seu pensamento psicanalítico e para o desenvolvimento de um rigor de pensamento que é, a seu ver, indispensável para a criatividade na sala de análise. “No momento, sinto uma revolução acontecendo na psicanálise americana, através de diversos autores, entre os quais cito Gabbard, Ogden e Grotstein. Sinto o pensamento deles como altamente criativo, e, ainda que sigam fundamentalmente as idéias de Bion, eles não repetem Bion. Grotstein, na obra que será a base do meu curso: ‘Um facho de intensa escuridão’, dedica este livro a Bion com as seguintes palavras: ‘Minha gratidão por me permitir reencontrar-me comigo mesmo e por encorajar-me a brincar com suas idéias, bem como com as minhas próprias’”.

Segundo a Doutora, nos agradecimentos, ele vai falar em canibalização das idéias dos diferentes autores que o influenciaram, o que não é plágio, porque elas não foram copiadas, foram transformadas, metabolizadas, à medida que faziam sentido para ele.

“Adoro dar aulas. Jamais recuso a oportunidade de oferecer meus conhecimentos em supervisões ou grupos de estudo. Também há dois anos dou aulas na Sociedade de Psicanálise de Ribeirão Preto. Assim, divido meu tempo com a clínica, as aulas e apresentação de trabalhos”, diz.

Limites: Por favor, fale um pouco sobre o curso que você ministrará no XXIII Congresso Brasileiro de Psicanálise, em Ribeirão Preto. Qual é o seu objetivo? Qual público ele será destinado?

Dra. Cora Sophia:
Com meu amadurecimento como analista, fui percebendo cada vez mais a importância de trabalhar a sexualidade dos pacientes. Mas tanto a linguagem de Freud como de Melanie Klein não me deixavam à vontade. Conversando a este respeito, por e-mail, com Dr. Grotstein, ele disse que “por mais importantes que as teorias de Klein e Bion sejam, ele sente que ele tem a permissão tanto de Klein quanto de Bion para estender e respeitosamente inovar ou modificar suas teorias para que suas interpretações possam tornar-se mais efetivas”. O curso que estarei oferecendo, com o título: “Sexualidade e Representação”, terá como objetivo principal discutir o desenvolvimento da capacidade criativa do analista, para que ele possa realmente ser ele mesmo ao interpretar.

O texto no qual pretendo fundamentar minhas idéias é o livro de Grotstein, justamente porque ele aprofunda o conhecimento teórico de Bion ao mesmo tempo em que abre espaços, para o “canibalismo”, isto é, para a assimilação que entra nas nossas entranhas e adquire o nosso jeito de ser. O título do curso provém do conceito básico de psicossexualidade de Freud, que pressupõe que o processo de humanização inicia-se com a representação mental das pulsões, com sua base biológica, abrindo caminho para o pensar.
É a partir da possibilidade de representação, que precede a simbolização, que tudo começa. Creio que o curso se destina a todos aqueles que se interessam por psicanálise.

Limites: Quais atividades serão desenvolvidas durante o curso? O que está sendo preparado?

Dra. Cora Sophia:
O curso constará de apresentações teóricas e de diálogos, nos quais poderão ser usados exemplos clínicos. Além dos participantes poderem trazer vinhetas clínicas, eu também levarei exemplos clínicos em que poderá ser observada a criatividade do analista.

Limites: Como ele irá contribuir com os profissionais interessados no tema?

Dra. Cora Sophia: Meu objetivo ao oferecer este curso é abrir um espaço para uma reflexão sobre a evolução da linguagem psicanalítica, o que é uma conseqüência da expansão do campo psicanalítico.  Sem que fosse abandonado o axioma fundamental da descoberta freudiana, a de que nosso verdadeiro eu está no inconsciente, houve uma evolução extraordinária da espontaneidade e da vinculação emocional da dupla, tornando o processo analítico muito mais poético, mais rico e mais fecundo. A investigação das fantasias sexuais inconscientes tornaram-se mais naturais e somente analistas ainda não preparados para sua função, intelectualizam ou enrijecem as comunicações que ocorrem na sala de análise.

Limite: Como você vê o tema Limites: prazer e realidade, tema do XXIII Congresso Brasileiro de Psicanálise?

Dra. Cora Sophia:
Gosto muito do tema. Podemos brincar muito com as palavras em jogo. Afinal, falar sobre prazer e realidade é um tema sem limites. Nossa possibilidade de gozo e de prazer pode ser expandida ao infinito, isto é, é ilimitada. A realidade, em princípio limitadora do prazer é o único lugar onde podemos obter prazer. Vivemos cerceados por uma série infindável de limites, porém podemos aprender a usá-los a nosso favor. Aliás, a falta de limites é detestável e muito angustiante.

De outro lado, os limites tornam-se muito doloridos quando frustram nossos desejos legítimos, quando nos afastam de quem amamos e nesse caso precisamos aprender a desenvolver as virtudes de paciência, humildade e tolerância diante da inexorável realidade.

* Dra. Cora Sophia
ministrará o curso “A sexualidade e sua representação”.  Se você se interessou em participar clique aqui e saiba mais informações sobre o XXIII Congresso Brasileiro de Psicanálise.  Garanta sua vaga antecipadamente!

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